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Capoeira se torna patrimônio cultural

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Capoeira se torna patrimônio cultural Empty Capoeira se torna patrimônio cultural

Mensagem por Felipe Noblat Qua Jul 23, 2008 9:12 am

Perla Ribeiro
De um passado marginalizado ao reconhecimento – a capoeira agora é patrimônio cultural brasileiro. A decisão foi aclamada ontem pelos 22 membros do conselho do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), durante reunião, ontem à tarde, no Palácio do Rio Branco (Praça Municipal). Agora, o ofício dos mestres será reconhecido como profissão, e as rodas de capoeira, como patrimônio imaterial. Além disso, o reconhecimento vai garantir a potencialização de Salvador como a capital mundial da capoeira e a criação de um centro para estudos e difusão da tradição.


Enquanto aguardavam o veredicto, dezenas de mestres circulavam pelas instalações do prédio na expectativa do resultado aguardado há anos. Na Praça Municipal, capoeiristas se distribuíam em diversas rodas, embalando os movimentos no compasso de berimbaus e atabaques. Depois de décadas relegados pelo poder público, os mestres assistiam à concretização de um ato histórico.


“Ganha a capoeira e a sociedade brasileira. É um esporte genuinamente nacional e essa decisão vem dissolver o coágulo do escravismo no Brasil, para reconhecer a contribuição africana ao país”, disse o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira. Já o presidente do Iphan, Luiz Fernando Almeida, considerou o reconhecimento como uma forma de reparação. “Ao fazer um discurso sobre multiplicidade étnica e diversidade cultural, é preciso ter políticas públicas que dialoguem com isso. Não adianta o discurso se financiarmos apenas a música clássica”, destacou.


O pedido do registro da capoeira foi uma iniciativa do Iphan e do Ministério da Cultura, e é resultado de uma ampla pesquisa para a produção de conhecimento e documentação sobre o bem imaterial. “Para nós, é muito importante. É o momento em que o Brasil reconhece sua mais importante arte e tradição. A capoeira é a maior embaixadora que o Brasil tem, levou nossa cultura e língua a mais de 160 países”, avaliou o mestre Cafuné, que foi discípulo do lendário mestre Bimba.


As promessas são muitas. Resta agora aguardar que elas deixem o estágio de projetos para se transformar em realidade. Por isso, apesar da comemoração, alguns mestres preferiram manter os pés no chão. “Estou muito feliz. Só Deus sabe a minha alegria, mas vamos ver. Tem muitos ‘donos’ da capoeira”, ironizou o membro do Conselho de Mestres da Associação Brasileira de Capoeira de Angola, o mestre Gildo Alfinete, que foi discípulo de Pastinha, outro célebre expoente da capoeira.


Preocupações - O mestre Curió, 71 anos, que trocou o traje típico da capoeira pelo terno e gravata para conferir a votação, também sinalizou a preocupação de que o reconhecimento “fique apenas na gaveta”. “Hoje, o sistema quer abraçar nossa causa, levar a maior fatia do bolo e nos excluir. Queremos que nos respeitem”, disparou o capoeirista, que continua ganhando a vida ensinando a tradição às novas gerações.


O presidente do Iphan também reconhece que o título de Patrimônio Cultural Brasileiro é apenas um primeiro passo. “O grande desafio é a execução (de políticas públicas). O caminho foi pavimentado. Agora, cabe aos governos a execução das ações à medida em que a sociedade cobre”, afirmou Almeida. O governador Jaques Wagner parabenizou a iniciativa. “A decisão faz justiça ao que o governo da Bahia e o mundo já tinham reconhecido. É uma forma de resgatar a memória dos mestres Bimba, Pastinha, João Pequeno, João Grande e outros tantos”, comemorou.


***


Mestres são barrados em reunião


A grande protagonista foi a capoeira, mas aos mestres não coube nem o papel de meros coadjuvantes. Enquanto a cúpula de conselheiros estava reunida no salão principal do Palácio Rio Branco, vários expoentes da tradição tiveram o acesso ao local negado, gerando insatisfação. Com 50 anos de capoeira, o mestre Gildo Alfinete tomou um susto ao ouvir que não poderia entrar. Nenhum argumento conseguiu dissuadir os seguranças.


A mesma negativa foi repetida inúmeras vezes a outros mestres. “Deram prioridade às autoridades, mas quem é autoridade em uma reunião onde a pauta é capoeira? Ao mesmo tempo que a reconhecem, nos desrespeitam”, criticou o mestre Aristides, ao ser barrado. Embora no salão vizinho a reunião fosse transmitida em um telão, para muitos não era suficiente. Eles queriam estar no local, vibrando a cada voto.


“É um absurdo sem tamanho. Tombam a capoeira como patrimônio e a gente não pode entrar. É por isso que o capoeirista não acredita em nada que vem do poder público. A época do capitão-do-mato já acabou”, reclamou o mestre Itapuã, 61 anos, 46 deles dedicados à capoeira.

http://www.correiodabahia.com.br/aquisalvador/noticia.asp?codigo=157351

Felipe Noblat
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